terça-feira, 9 de agosto de 2011

CRIMES DE ÓDIO: Como prever criminologicamente massacres de terroristas, como o da Noruega?


Por trás desse rosto bonito de cantor da banda
Abba está um assassino cruel e extremamente
fanático. Mais um produto da sociedade global.
 Várias cidades do nordeste brasileiro abrigam imigrantes que vieram a poucos anos da Escandinávia. Geralmente esses novos "cidadãos brasileiros" são facilmente identificáveis, seja pela palidez da pele, a loirice dos cabelos ou os olhos claros, seja pela simpatia um tanto tímida de início, e desvelada após alguns meses ou anos de convívio, mostrando um povo festivo, bem humorado, que adora uma cachaça e ver uma bela mulata na praia e que adora o ensolarado e quente clima dos trópicos por ser mais acolhedor do que as baixas temperaturas da terra de onde vieram.

Hoje em dia, a imagem dos povos escandinavos difere muito de seus violentos antepassados vikings. Se estes eram conhecidos pela brutalidade, selvageria nos atos de conquista e uma inata predisposição à guerra, os noruegueses ou suecos modernos são mais conhecidos pela urbanidade no trato com os turistas, pela polidez discreta com os imigrantes, pelo amor ao futebol (especialmente a admiração pelo futebol brasileiro, onde se gabam torcedores noruegueses de sua seleção nacional, apesar de ter ido a pouquíssimas Copas, jamais perdeu para a seleção canarinho). A imagem do norueguês hoje é daquele tipo simpático, branco como neve, até meio abobalhado, com seus olhos azuis, cabelos loiros e sorriso meio tímido, chegado a uma boa caipinha e encantado com as mulatas e morenas latino-americanas, quando conseguem sair de suas gélidas cidades e visitam os trópicos, de maiores temperaturas.

Oslo viveu dias de caos e destruição,
fruto da loucura de um só homem.
Entretanto, há algo de podre no Reino da Dinamarca, assim como na Suécia, e, principalmente agora, na Noruega. Há alguns dias o mundo foi impactado pela notícia de atentados terroristas em dois lugares do país, praticados individualmente pela mesma e singular pessoa.  Anders Breivik, um jovem de 32 anos, filho de um diplomata aposentado, boa-pinta, vaidoso e da tez tão branca e loira como a de seus bonachões compatriotas, que se fazia passar por empresário e comprava fertilizantes para transformá-los em explosivo caseiro. Por debaixo do sorriso angelical, Breivik escondia um monstro, um insano terrorista de extrema-direita, neofacista, fundamentalista religioso, ultranacionalista e homofóbico, que hoje representa a face do mal na Europa.


Um dos países mais tranquilos do mundo
mergulha em lágrimas.
 A imagem de óasis de tranquilidade de um dos chamados "países mais tolerantes do mundo", onde o nivel de vida e o Produto Interno Bruto são uns dos mais altos do globo, desabou diante das dantescas cenas de morte, sangue, caos e destruição provocada por Breivik. Em Oslo, a capital norueguesa, um carro cheio de explosivos explodiu bem diante  do gabinete do governo, produzindo extensos danos, matando 8 pessoas e ferindo várias outras. Na ilha de Utoya, cerca de  40 km da capital,  jovens adolescentes perderam a vida na ilha, numa matança produzida pelo mesmo autor do atentado anterior. Disfarçado de policial e munido de uma pistola e um fuzil semiautomático, Anders Breivik disparou contra os jovens num acampamento da Juventude do Partido Trabalhista Norueguês, matando 69 pessoas, antes de se entregar para a polícia. "Terminei", foi a única frase dita pelo assassino antes de ser preso e virar objeto do ódio mundial, mesmo ódio que impulsionou suas ações.


O assassino esboça um sinistro sorriso, após ter realizado
a carnificina.
 O continente europeu sempre foi uma contradição de disparidades e diferenças dentre as diversas nacionalidades e etnias que vivem na mesma região durante séculos. Outrora palco de inúmeras guerras, com a globalização, o surgimento do Euro como moeda única e a União Européia, pensou-se que a Europa viveria uma nova era de paz, tranquilidade e tolerância, com o convívio salutar entre os diferentes. Ledo engano. Com as sucessivas crises cíclicas do capitalismo, e a desagregação do Estado de Bem Estar Social, a Europa de hoje é uma Europa de imigrantes e desempregados, com famílias de etnias diversas convivendo nos mesmos condominios e vizinhanças, sem terem nada em comum. O retraímento do povo europeu em relação ao árabe, ao africano ou ao asiático, fica demonstrado nos discursos irascíveis dos partidos ultranacionalistas de extrema-direita, que pregam como solução para a crise financeira a expulsão de seus imigrantes. É um discurso típico de movimentos totalitários, como aqueles que já foram bem conhecidos na Europa como o nazismo e o fascismo, mas que agora, de maneira temerária, voltam à tona no cotidiano das nações. Em torno desse discurso intolerante que Anders Breivik se ateve para cometer as atrocidades ocorridas na Noruega, e o que é pior, há muitos parecidos com ele.


O terrorista em uma de suas fotos distribuídas
na internet. O cara gostava de se promover.
 Os crimes de ódio são os mais difíceis de conter porque seria necessário toda uma alteração sócio-econômica e política na realidade de povos que, historicamente, convivem mal com a dualidade de ideias e o pluralismo cultural. Os europeus, outrora, foram os conquistadores, os colonizadores, o berço do mundo ocidental, e agora penam pelas próprias pernas, com o desemprego massificado e generalizado atingindo seus próprios compatriotas; pois, com o fim dos benefícios estatais e o crescente crescimento populacional, além do desemprego,  aumenta a criminalidade e a extensão do crime organizado, juntamente com a miséria e da pobreza que começam a assolar ruas, praças e estações de metrô das metrópoles européias. No começo do século passado, a culpa de tudo isso era atribuída aos judeus, como agora são os imigrantes árabes a bola da vez, no ódio cultivado por extremistas como Breivik, tendo em vista as ações praticadas por ele, tão nocivas quanto as promovidas por grupos terroristas islâmicos como a Al Qaeda, do recém eliminado Osama Bin Laden. Se o problema, outrora, era o terrorismo islâmico, o dilema de agora é surgir o terrorismo cristão, a partir das ideias tresloucadas de terroristas como Breivik, que na internet se autointitulava "Cavaleiro Templário", como uma referência aos combatentes cristãos de muçulmanos, nos tempos das Cruzadas. Para loucos ou fanáticos tresloucados como Breivik, que assistem na televisão os discursos dos partidos de extrema-direita, tudo se resume numa questão de defender a cristandade européia dos fascínoras terroristas muçulmanos, e, para isso, é possível até mesmo matar seus próprios compatriotas em nome da causa.

O terrorista norueguês matou não apenas jovens imigrantes ou filhos de estrangeiros no massacre na Ilha de Utoya, mas também sua própria gente, pessoas de sua nacionalidade, tão brancas e cristãs como ele, mas que em sua mente doentia partilhavam do mesmo defeito dos inimigos da Europa: eram tolerantes, compunham a juventude de um partido de esquerda que defendia o bom relacionamento com os diferentes e a tolerância quanto às regras de imigração. O motivo dos crimes foi, portanto, o comprometimento de um próprio segmento da sociedade norueguesa com os povos que Breivik combatia, e, para esses jovens ou para quem atravessasse seu caminho, só restaria a morte.

Para alguns estudiosos da cena européia, a Europa deixou de ser antissemita para se tornar islamofóbica. Se no passado, durante séculos foram os judeus os grandes vilões das vicissitudes e dificuldades do continente, agora são os muçulmanos de origem árabe o bode expiatório das mazelas da sociedade européia. Torna-se muito difícil para os governantes, em matéria de política criminal, conter o avanço de práticas delituosas relacionadas com a intolerância se a própria sociedade não se torna tolerante, confundindo pluralismo cultural com convívio entre diferentes que não se comunicam. É necessário, a título de prevenção, que se inicie uma cruzada educacional e conscientizadora, de que permitir a inclusão dos imigrantes na sociedade não implique em perda de identidade, mas sim na formação de uma nova identidade multicultural, onde, antes de se verem como europeus, árabes, africanos ou latino-americanos, todos possam se ver, principalmente, como cidadãos do mundo. Talvez, desta forma, os oportunistas partidos de extrema-direita que pululam pela Europa consigam sair de cena por perda de eleitorado. Esse é um dos grandes desafios de sobrevivência da humanidade, no século XXI. Enquanto isso, os simpáticos compatriotas de Breivik em solo brasileiro, assistem atônitos um dos seus cometer bárbaros crimes, simplesmente porque não se deixou assimilar. Que triste!