Juan Moraes:mais uma vítima do absurdo. |
Infelizmente, para aqueles que torciam para um improvável final feliz, com o reaparecimento do garoto vivo, os meios de comunicação recentemente confirmaram o que já estava escrito: mais uma vez a polícia carioca cometeu abusos intoleráveis, rasgando a lei, cuspindo na Constituição e se tornando a pior face do crime que almeja combater, tornando-se também criminosa. Frente uma forte cobertura midiática e uma pressão intensa da opinião pública, todo o aparato estatal foi mobilizado no Rio de Janeiro para encontrar o menino, até que seu corpo foi encontrado.
A cena é bem clara e de contornos grotescos, tanto quanto é grotesca a rotina das comunidades assoladas pela violência no cotidiano carioca,.O garoto Juan voltava para casa, acompanhado de seu irmão, Wesley, quando, ao final do dia, na favela Danon em Nova Iguaçu, policiais militares supostamente teriam começado um tiroteio contra traficantes, no triste roteiro cotidiano dos moradores da Baixada Fluminense, quando tanto Juan quanto seu irmão foram atingidos pelos tiros trocados entre policiais e bandidos. Wesley ainda viu seu irmão caído e tentou pedir socorro, correndo atrás da mãe. Porém, ao retornarem ao local, Juan tinha sumido. O que aconteceu com o menino Juan?
Sobra responsabilidade para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, enquanto que a Polícia Civil, acompanhada de seus peritos, espalhava luminol pelo local do crime, e montava grupos de busca, no sentido de encontrar algum vestígio do garoto que desapareceu no ar. Ao menos uma tese já foi derrubada, a de que Juan pudesse ter sido atingido por balas de traficantes, uma vez que na cena do crime persistem somente provas periciais de que somente os policiais militares estavam no local, e que a munição encontrada fora utilizada pelos policiais suspeitos do desaparecimento do garoto. Se Juan não ingressou na estatística dos mortos, ao menos provisoriamente, até que seu corpo fosse encontrado após quinze dias de seu desaparecimento, Juan já seguia nas estatísticas dos desaparecidos, daqueles meninos cujas fotos ficam penduradas nos muros ou coladas nos postes, ou nas mãos de mães chorosas, que, segurando tremulamente panfletos com as fotos de seus entes queridos, balbuciam entre um olhar distante, a seguinte pergunta: até quando??
Diante da barbárie, só nos resta protestar! |
A perícia investiga a cena do crime e já contesta a versão dos suspeitos do crime. |
Juan foi mais uma vítima da truculência e da corrupção policial, uma vez que pairam suspeitas acerca da atuação da perita criminal encarregada de identificar o corpo de uma criança, encontrada nas margens de um riacho, nas proximidades do local do crime, e que poderia ser o menino Juan. A suspeita de corrupção e uma iminente sindicância surgem no momento em que, aparentemente, a perita se "equivocou" e (pasmem!) identificou o cadáver encontrado como sendo inicialmente de uma menina e não de um garoto. Entretanto, dias após o crime, constatou-se que o corpo encontrado não era só de um menino, como correspondia à descrição do menino Juan, revelando mais uma tétrica realidade: a de que a Polícia do Rio matou, e matou mais uma vez um inocente.
Se na Argentina temos as Mães da Praça de Maio, aqui temos as mães de Acari, da Baixada Fluminense, do Complexo do Alemão, de Candelária, e de uma interminável lista de genitoras de garotos muito jovens e pobres, que viveram poucos anos de vida, até que finalmente foram ceifados deste mundo pela esdrúxula estrutura policial do Estado brasileiro. Se sob a égide de um Estado Democrático de Direito, a polícia não pode mais matar e torturar, em plena luz do dia, como fazia nos tempos da ditadura, agora resta a determinados bandidos de farda ocultar o que fizeram, fazendo ao menos sumir os elementos tidos como indesejáveis, carregando seus corpos crivados de balas para a margem de riachos ou lixões. Se não houver uma atuação enérgica da Justiça no caso, como aconteceu em tristes episódios anteriores, ainda teremos muitos Juans espelhados por aí, com seus corpos apodrecendo ao relento, vítimas da impunidade. Como diz a música do grupo mexicano Maná: O la migra o lo mató o el desierto le enterró! Pobre Juan!!
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