sexta-feira, 8 de julho de 2011

MISTÉRIO:Afinal, o que teria acontecido para a polícia matar e esconder o menino Juan??


Juan Moraes:mais uma vítima do absurdo.
 Juan Moraes é (ou era) um típico pré-adolescente carioca, negro, de família pobre, que tão somente engrossaria as estatísticas de mais um menino preto, pobre e favelado morto pela polícia, se seu desaparecimento não servisse para atingir todo um governo e mobilizar a opinião pública. Juan já estava sumido há mais de uma semana, sem que se soubesse onde ele estava ou onde se encontrava o seu corpo. Sim, pois até para a sofrida mãe do menino, Juan já tinha perdido a vida nas mãos da polícia que deveria "servir e proteger", mas que na dura realidade carioca, é tão perigosa quanto os traficantes armados que teimam em não sair da exuberante paisagem do Rio de Janeiro, após a progressiva instalação das Unidades de Polícia Pacificadora-UPPs, nos morros cariocas.

Infelizmente, para aqueles que torciam para um improvável final feliz, com o reaparecimento do garoto vivo, os meios de comunicação recentemente confirmaram o que já estava escrito: mais uma vez a polícia carioca cometeu abusos intoleráveis, rasgando a lei, cuspindo na Constituição e se tornando a pior face do crime que almeja combater, tornando-se também criminosa. Frente uma forte cobertura midiática e uma pressão intensa da opinião pública, todo o aparato estatal foi mobilizado no Rio de Janeiro para encontrar o menino, até que seu corpo foi encontrado.

A cena é bem clara e de contornos grotescos, tanto quanto é grotesca a rotina das comunidades assoladas pela violência no cotidiano carioca,.O garoto Juan voltava para casa, acompanhado de seu irmão, Wesley, quando, ao final do dia, na favela Danon em Nova Iguaçu, policiais militares supostamente teriam começado um tiroteio contra traficantes, no triste roteiro cotidiano dos moradores da Baixada Fluminense, quando tanto Juan quanto seu irmão foram atingidos pelos tiros trocados entre policiais e bandidos. Wesley ainda viu seu irmão caído e tentou pedir socorro, correndo atrás da mãe. Porém, ao retornarem ao local, Juan tinha sumido. O que aconteceu com o menino Juan?

Sobra responsabilidade para a Polícia Militar do Rio de Janeiro, enquanto que a Polícia Civil, acompanhada de seus peritos, espalhava luminol pelo local do crime, e montava grupos de busca, no sentido de encontrar algum vestígio do garoto que desapareceu no ar. Ao menos uma tese já foi derrubada, a de que Juan pudesse ter sido atingido por balas de traficantes, uma vez que na cena do crime persistem somente provas periciais de que somente os policiais militares estavam no local, e que a munição encontrada fora utilizada pelos policiais suspeitos do desaparecimento do garoto. Se  Juan não ingressou na estatística dos mortos, ao menos provisoriamente, até  que seu corpo fosse encontrado após quinze dias de seu desaparecimento, Juan já seguia nas estatísticas dos desaparecidos, daqueles meninos cujas fotos ficam penduradas nos muros ou coladas nos postes, ou nas mãos de mães chorosas, que, segurando tremulamente panfletos com as fotos de seus entes queridos, balbuciam entre um olhar distante, a seguinte pergunta: até quando??


Diante da barbárie, só nos resta protestar!
 O sumiço de Juan aconteceu no pior momento, na pior semana do inferno astral por que passa o governador Sérgio Cabral, após uma lua de mel duradoura com o eleitorado carioca, com uma reeleição respeitável no ano passado, e a popularidade levada às alturas por conta da boa atuação na segurança pública do Rio de Janeiro, com a proliferação das lendárias UPPs. A casa do Cabral começou a ruir com a queda de um helicóptero na Bahia, onde estava a namorada do filho do governador e outras mulheres e crianças que compunham o staff familiar do governador carioca, após um paradísiaco final de semana no litoral, em um acidente que expôs as chagas do governo carioca e o comprometimento do governador até os cabelos com altos representantes do empresariado, beneficiados em questionáveis licitações de obras públicas no Rio de Janeiro. Além disso, Cabral queimou seu filme ao chamar os bombeiros grevistas do Rio de vândalos, numa cidade que cultua seus bombeiros como autênticos heróis, responsáveis por grande parte dos salvamentos e resgates que acontecem todo ano no Rio, após os pesados temporais e ressacas marítimas na metrópole fluminense.


A perícia investiga a cena do crime e já contesta a versão dos suspeitos do crime.
 O caso de Juan serviu para mostrar que, infelizmente, o discurso das UPPs não é infalível e que o maior investimento do governo carioca em segurança pública tem telhado de vidro. Os policiais militares, que supostamente mataram Juan e ocultaram seu corpo, são os mesmos pagos pelo governo carioca para transformar a polícia do Rio numa vitrine para a Copa do Mundo de 2014 e para as próximas Olimpíadas em solo brasileiro; mas, por enquanto, parece que deixaram muito a desejar. Não obstante as iniciativas do governo em equipar e criar um novo padrão de policiamento na capital, ainda levará muito tempo para que a polícia fluminense deixe de cultivar uma subcultura retrógada e violenta, de ver todo suspeito como preto, pobre e favelado, e de se utilizar do expediente de atirar primeiro e perguntar depois. Infelzimente, em pleno século XXI, ainda permanece em toda sua atualidade a pesquisa sociológica feita pelo professor Roberto Kant de Lima na década de 80 do século passado, que resultou no interessante livro: A polícia da cidade do Rio de Janeiro (Ed. Forense). Em breves linhas, constata-se que a PM do Rio ainda mata muito, assim como a Polícia Civil tem muito o que melhorar.

Juan foi mais uma vítima da truculência e da corrupção policial, uma vez que pairam suspeitas acerca da atuação da perita criminal encarregada de identificar o corpo de uma criança, encontrada nas margens de um riacho, nas proximidades do local do crime, e que poderia ser o menino Juan. A suspeita de corrupção e uma iminente sindicância surgem no momento em que, aparentemente, a perita se "equivocou" e (pasmem!) identificou o cadáver encontrado como sendo inicialmente de uma menina e não de um garoto. Entretanto, dias após o crime, constatou-se que o corpo encontrado não era só de um menino, como correspondia à descrição do menino Juan, revelando mais uma tétrica realidade: a de que a Polícia do Rio matou, e matou mais uma vez um inocente.

Se na Argentina temos as Mães da Praça de Maio, aqui temos as mães de Acari, da Baixada Fluminense, do Complexo do Alemão, de Candelária, e de uma interminável lista de genitoras de garotos muito jovens e pobres, que viveram poucos anos de vida, até que finalmente foram ceifados deste mundo pela esdrúxula estrutura policial do Estado brasileiro. Se sob a égide de um Estado Democrático de Direito, a polícia não pode mais matar e torturar, em plena luz do dia, como fazia nos tempos da ditadura, agora resta a determinados bandidos de farda ocultar o que fizeram, fazendo ao menos sumir os elementos tidos como indesejáveis, carregando seus corpos crivados de balas para a margem de riachos ou lixões. Se não houver uma atuação enérgica da Justiça no caso, como aconteceu em tristes episódios anteriores, ainda teremos muitos Juans espelhados por aí, com seus corpos apodrecendo ao relento, vítimas da impunidade. Como diz a música do grupo mexicano Maná: O la migra o lo mató o el desierto le enterró! Pobre Juan!!

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