O jornalista Gelson Domingos, morto no último domingo, dia 06 de novembro, após tiroteio entre a polícia do Rio e traficantes. |
O jornalista morto deixou esposa, filhos e netos, e mais de vinte anos de profissão, que acabaram de forma trágica através de uma bala de fuzil que lhe atravessou o corpo. Mesmo com toda a pressa no atendimento médico, Gelson Domingos já chegou morto ao hospital. Nada mais restava a fazer, e o jornalista acabou por ser somado à macabra cifra de mortos por balas perdidas, no conflito entre a polícia carioca e os traficantes.
Foi nesse contexto, de tiroteio, que ocorreu a morte do cinegrafista Gelson Domingos. Na periferia e nas trocas de tiros nos subúrbios do Rio, sobra bala até para cinegrafistas. Triste! |
a) O "tudo pela notícia" pode levar a uma total insegurança, e até mesmo à morte de jornalistas: os grandes meios de comunicação, principalmente a televisão, acham que a atividade do jornalista equivale a de um soldado, no vale-tudo da notícia, onde até mesmo arriscar a vida vale à pena. Alega-se o tal do compromisso jornalístico, a busca desmesurada da informação ou o dever de informar. Nesse sentido, repórteres e cinegrafistas são colocados, lado a lado com policiais, em diligências perigosas, nos conflitos armados com bandidos, tão e simplesmente para noticiar ao vivo uma troca de tiros, e assim despertar a atenção de milhares de telespectadores, animados por um filme de bangue-bangue, na forma de reality show. Por trás disso está o interesse do grande capital, especialmente dos donos de canais de televisão, dos anunciantes e dos meios de propaganda, em auferir lucro com a massificação das transmissões televisionadas de grandes ocorrências criminais, que geram grande audiência. É a velha imprensa sensacionalista que explora o "mundo cão" , com seus Cidade Alerta e programas policiais de fim de tarde, tudo com o intuito de chamar a atenção para um segmento do público que, contaminado por uma curiosidade mórbida, adora ver esses programas.
b) a polícia carioca ainda está totalmente versada na ação policial como ação de guerra, e nesse sentido, no fogo cruzado entre policiais e bandidos, ainda são aceitas as perdas colaterais, como a morte de civis inocentes ou de jornalistas com balas perdidas, já que isso faz parte do risco da guerra. Diante de uma atividade extremamente nervosa, estressante, no estilo de uma guerrilha urbana, em que o aparato bélico fala mais do que os serviços de inteligência, fica difícil efetuar cercos e impossibilitar, quase por completo, a reação de bandos armados de bandidos ao serem abordados, em operações policiais, blitz ou batidas que quase sempre seguem uma lógica imediatista e de tiroteio. Desta vez foi um jornalista que morreu, mas tal fato é comum nos morros e favelas cariocas, onde morrem diariamente crianças, mulheres, jovens e velhos, nos tiroteios entre policiais e traficantes na periferia do Rio. O resultado do incidente do domingo, com a morte do cinegrafista da Bandeirantes é que, logo em breve, representantes da imprensa vão acabar sendo também vítimas corriqueiras das mesmas balas que, outrora, eram endereçadas a policiais ou a bandidos, na lógica perversa do conflito de dois grupos armados em conflito, que só se diferenciam por ser um representante do Estado, enquanto que o outro representa os marginalizados desse próprio Estado.
A tristeza e o choque estampados no choro do repórter, colega do cinegrafista morto, resumem o drama do jornalismo criminal brasileiro, preso entre o sensacionalismo e a completa falta de segurança. |
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