segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Tá lá o corpo estendido no chão:agora de um jornalista da BAND.

O jornalista Gelson Domingos, morto no
último domingo, dia 06 de novembro,
após tiroteio entre a polícia do Rio e traficantes.
O jornalismo pode ser uma atividade bem arriscada. No caso do repórter cinegrafista da emissora BAND de televisão, Gelson Domingos, de 46 anos, o risco o levou a morte, na manhã de ontem, domingo, quando o cinegrafista levou um tiro de fuzil, que atravessou o colete que estava vestido. Seguindo uma diligência do BOPE, na perseguição a traficantes, na Favela de Antares, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, acompanhado de seu colega de emissora, bem como de outros jornalistas da rede Globo, Gelson parecia estar filmando a ocorrência em um local seguro, quando um aviso errado emitido para os policiais que lideravam a operação, fez com que todos pensassem que a área onde se encontravam já se encontrava livre, segura, ocupada pela polícia, o que a tragédia acabou por revelar que estavam todos enganados. O erro manifestou-se num tiroteio com os bandidos, que resultou na morte de Gelson.

O jornalista morto deixou esposa, filhos e netos, e mais de vinte anos de profissão, que acabaram de forma trágica através de uma bala de fuzil que lhe atravessou o corpo. Mesmo com toda a pressa no atendimento médico, Gelson Domingos já chegou morto ao hospital. Nada mais restava a fazer, e o jornalista acabou por ser somado à macabra cifra de mortos por balas perdidas, no conflito entre a polícia carioca e os traficantes.


Foi nesse contexto, de tiroteio, que ocorreu a morte do
cinegrafista Gelson Domingos. Na periferia e nas trocas de tiros
nos subúrbios do Rio, sobra bala até para cinegrafistas. Triste!
 Mas não basta dizer que a tragédia poderia ter sido evitada, e já que ocorreu seus autores devem ser presos, processados e condenados. A Lei do Cão é mais pesada, na metrópole carioca, e se sabe que o autor do disparo que vitimou Gelson, pode muito bem já ter sido morto pela polícia ou por outros bandidos, ou estar prestes a sê-lo, pelo inevitável clima de conflito, medo e lei do silêncio que acontece diariamente, não só no Rio de Janeiro, mas nos grandes centros urbanos do país. No caso do triste falecimento de Gelson, podemos chegar a dois entendimentos bastante simples e peculiares:

a) O "tudo pela notícia" pode levar a uma total insegurança, e até mesmo à morte de jornalistas: os grandes meios de comunicação, principalmente a televisão, acham que a atividade do jornalista equivale a de um soldado, no vale-tudo da notícia, onde até mesmo arriscar a vida vale à pena. Alega-se o tal do compromisso jornalístico, a busca desmesurada da informação ou o dever de informar. Nesse sentido, repórteres e cinegrafistas são colocados, lado a lado com policiais, em diligências perigosas, nos conflitos armados com bandidos, tão e simplesmente para noticiar ao vivo uma troca de tiros, e assim despertar a atenção de milhares de telespectadores, animados por um filme de bangue-bangue, na forma de reality show. Por trás disso está o interesse do grande capital, especialmente dos donos de canais de televisão, dos anunciantes e dos meios de propaganda, em auferir lucro com a massificação das transmissões televisionadas de grandes ocorrências criminais, que geram grande audiência. É a velha imprensa sensacionalista que explora o "mundo cão" , com seus Cidade Alerta e programas policiais de fim de tarde, tudo com o intuito de chamar a atenção para um segmento do público que, contaminado por uma curiosidade mórbida, adora ver esses programas.

b) a polícia carioca ainda está totalmente versada na ação policial como ação de guerra, e nesse sentido, no fogo cruzado entre policiais e bandidos, ainda são aceitas as perdas colaterais, como a morte de civis inocentes ou de jornalistas com balas perdidas, já que isso faz parte do risco da guerra. Diante de uma atividade extremamente nervosa, estressante, no estilo de uma guerrilha urbana, em que o aparato bélico fala mais do que os serviços de inteligência, fica difícil efetuar cercos e impossibilitar, quase por completo, a reação de bandos armados de bandidos ao serem abordados, em operações policiais, blitz ou batidas que quase sempre seguem uma lógica imediatista e de tiroteio. Desta vez foi um jornalista que morreu, mas tal fato é comum nos morros e favelas cariocas, onde morrem diariamente crianças, mulheres, jovens e velhos, nos tiroteios entre policiais e traficantes na periferia do Rio. O resultado do incidente do domingo, com a morte do cinegrafista da Bandeirantes é que, logo em breve, representantes da imprensa vão acabar sendo também vítimas corriqueiras das mesmas balas que, outrora, eram endereçadas a policiais ou a bandidos, na lógica perversa do conflito de dois grupos armados em conflito, que só se diferenciam por ser um representante do Estado, enquanto que o outro representa os marginalizados desse próprio Estado.


A tristeza e o choque estampados no choro do repórter,
 colega do cinegrafista morto, resumem o drama do
jornalismo criminal brasileiro, preso entre o sensacionalismo
e a completa falta de segurança.
 Por último, não se trata de atacar a imprensa livre ou de dificultar o exercício pleno e democrático do jornalismo, a ação violenta e assassina de bandidos, disparando tiros de fuzil e atingindo em cheio cinegrafistas. Na verdade, o que aconteceu com Gelson Domingos foi um crime mesmo. Tão e simplesmente um crime horrível, trágico, bárbaro, resultado da ação criminosa de grupos armados que o Estado não consegue (ou não quer) efetivamente combater. O crime organizado no Rio de Janeiro, representado por seus traficantes, não quer especificamente atingir a imprensa brasileira, ou agir da forma medonha como o psicopata Elias Maluco agiu contra o repórter investigativo da rede Globo, Tim Lopes, matando-o como um açougueiro, para encobrir provas de crimes. Criminosos matam testemunhas, policiais ou quem quer que se encontre pelo caminho, tão somente por é que a função deles, vivendo naquele mundinho bisonho e bizarro da bandidagem, na banalização da vida e da morte, onde a esperança desapareceu e tudo se resolve na animalidade das armas. A imprensa brasileira está aprendendo, da pior forma, como os reflexos da bandidagem e da criminalidade explorada nos dramas cotidianos difundidos nos meios de comunicação, começam agora a produzir seus efeitos colaterais, atingindo a mesma mídia responsável pela glamourização e banalização do crime, por sua exposição maciça aos olhos da população, todos os dias, nos canais de TV. O problema é que aqueles que são atingidos diretamente nessa reação do crime contra a imprensa, são os profissionais, trabalhadores, pais de família que dela fazem parte, perdendo a vida durante esse processo. E isto sim, é muito triste! Nessa hora, será que vai ter alguém sempre filmando??

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